NOTÍCIAS SOBRE A UNITA? SÓ FALANDO COM O… MPLA

O presidente da UNITA, “nomeado” pelo MPLA através da sua sucursal chamada Tribunal Constitucional, Isaías Samakuva, convocou o XIII Congresso do partido, onde deverá ser eleito um novo presidente que tenha sido previamente aprovado pelo MPLA, na sequência do afastamento de Adalberto da Costa Júnior (decretado pelo MPLA), para os dias 2, 3 e 4 de Dezembro.

O XIII Congresso ordinário do partido realiza-se sob o lema (já aceite pelo Tribunal Constitucional) “Unidade, Cidadania para a Alternância”.

Da agenda do conclave, também ela aprovada pelo MPLA, constam os seguintes pontos: avaliar e redefinir a linha ideológica do partido, aprovar e adoptar a estratégia, o programa do partido e seus objectivos, rever os estatutos e programa do partido, rever, se for caso disso, os símbolos do partido, aprovar os relatórios sobre o funcionamento do partido apresentados pelos órgãos cessantes, eleger o presidente do partido, eleger a comissão política, apreciar a actuação dos órgãos do partido e deliberar sobre qualquer questão de interesse do partido.

Em síntese, no contexto político angolano – dominado exclusivamente pelo MPLA há 46 anos – o congresso da UNITA deverá resumir-se a um só ponto: qualquer questão de interesse do partido. E essa questão é os seus dirigentes aceitarem – como quer o MPLA – serem escravos de barriga cheia (de lagosta), ou livres com a barriga vazia.

Esta semana, Isaias Samakuva ajoelhou-se e tomou de novo posse como membro do Conselho da República, tendo recebido elogios por parte do Presidente do MPLA, da República, Titular do Poder Executivo e dono disto tudo, João Lourenço, que lhe deu as boas vindas e lhe disse esperar que “tenha vindo para ficar”.

Previsivelmente, embora não existam testemunhas disso, tudo leva a crer que, em privado, Isaías Samakuva tenha mesmo beijado a mão do novo “querido líder”.

Isaías Samakuva, que já afirmou várias vezes a intenção de não se recandidatar à presidência da UNITA (se o MPLA estiver de acordo) depois de ter conduzido os destinos do partido durante 16 anos, ascendeu de novo à liderança na sequência da decisão do MPLA, oficialmente formalizada pelo Tribunal Constitucional, que determinou a anulação do XIII Congresso, realizado em 2019 e no qual foi eleito Adalberto da Costa Júnior, ditando assim o seu afastamento.

A marcação de um novo congresso surge na sequência da anulação do XIII Congresso, em que foi eleito (sem autorização do MPLA) Adalberto da Costa Júnior, pelo Tribunal Constitucional, que deu razão a um grupo de supostos militantes do partido do “Galo Negro” que pediam a destituição do presidente devido a alegadas irregularidades registadas no congresso, designadamente o facto de ter concorrido sem renunciar à nacionalidade portuguesa.

Adalberto da Costa Júnior tornou-se o terceiro presidente do partido, em 15 de Novembro de 2019, conquistando mais de 50% dos votos num universo de 960 eleitores e vencendo quatro candidatos: Alcides Sakala, Raul Danda (falecido este ano), Kamalata Numa e José Pedro Catchiungo.

Na verdade, entre as alegadas irregularidades consta a dupla nacionalidade de Adalberto da Costa Júnior à data de apresentação da sua candidatura às eleições do XIII Congresso. Se necessário, para uma segunda rodada de acusações, podem alegar que ele é mulato e natural do Huambo, que – ao contrário dos altos dirigentes o MPLA – não precisa de se descalçar para contar até 12, não tem o cérebro nos intestinos e nunca aceitará amputar a coluna vertebral.

É crime pensar primeiro nos angolanos

Em Dezembro de 2020, Adalberto da Costa Júnior deu uma entrevista ao diário português Público onde afirmou que “em Angola, o próprio Chefe de Governo incentiva a corrupção”. Pelos vistos o líder da UNITA tem bem presente o que afirmava Jonas Savimbi: “Vocês estão a dormir e o MPLA está a enganar-vos”. João Lourenço não perdoou uma verdade como esta.

Muito crítico em relação à gestão do Presidente da República (não nominalmente eleito), igualmente Presidente do MPLA (partido que está no Poder há 46 anos) e Titular do Poder Executivo, o líder da UNITA e da oposição que o MPLA ainda permite que exista, disse que “João Lourenço vai se mostrando na sua verdadeira dimensão de autoritarismo sem limite”, fazendo coisas que nem no tempo de José Eduardo dos Santos se viam. Resultado? Fora com ACJ e repescagem de Samakuva.

Adalberto da Costa Júnior teve tudo menos um primeiro ano normal como líder da oposição em Angola, devido às consequências da pandemia de Covid-19 que permitiu ao Governo justificar tudo o que há décadas deveria ter feito mas que não fez, sendo criação das autarquias e das eleições locais apenas um exemplo.

“O elemento mais estratégico de fomento à corrupção é a contratação pública sem concursos”, disse em entrevista ao jornal Público, Adalberto da Costa Júnior, estratégia que é o “filé-mignon” da ladroagem institucional praticado pelo MPLA, partido que é dos mais ricos do mundo e o que tem mais corruptos por metro quadrado.

“E é justamente aqui que João Lourenço está a mostrar-nos que está abraçado a este incentivo, ao incentivo à corrupção. Porque não faz contratação pública com concursos, com transparência necessária”, afirmou Adalberto da Costa Júnior.

“Em Angola, hoje, combate-se os que se querem perseguir e protege-se uma série de outros corruptos de grande dimensão”, afirmou Adalberto da Costa Júnior, acrescentando que, “lamentavelmente, tem provas” que o próprio Chefe do Governo (João Lourenço) incentiva a corrupção.

O líder da UNITA explicou: “O Presidente da República que tem como elemento mais importante do seu mandato, segundo ele, o combate à corrupção tem como ministro de Estado, do seu gabinete, um elemento acusado de corrupção, com evidentes indicadores de prova de corrupção, e não o sujeita, sequer, a investigação”.

Adalberto da Costa Júnior diz que não consegue entender como é que um ministro de Estado “recebe a realização da compra de bens para a polícia enquanto ministro, em violação à lei, e que o contrato tenha sido assinado pelo Presidente da República”.

Recorde-se que, no final de 2019, Adalberto da Costa Júnior avisou que o seu partido não ia engolir sapos e que estaria na linha da frente do combate por uma Angola para os cidadãos nem que, para isso, no limite, tenha de sair às ruas.

Ai é isso?, interrogou-se João Lourenço. Vai daí decretou a sua sentença. Colocar ACJ fora da UNITA. Baixou, enquanto Presidente do MPLA, uma ordem para o Tribunal Constitucional tratar do assunto.

Falando no programa Angola Fala Só da VoA, Adalberto da Costa Júnior acusou o MPLA de manter um regime partidarizado, que nunca condenou a fraude eleitoral, que mantém controlada a comunicação social pública e que divide a riqueza do país entre seus dirigentes.

“Não vamos engolir sapos, não senhor”, reiterou o então líder da oposição ante uma pergunta directa de um internauta, nomeadamente sobre a fraude eleitoral que, para Adalberto da Costa Júnior, “tem sido prática do regime”, como sempre “foi denunciado pela UNITA”.

Para ACJ, o partido no poder “acostumou-se a governar na vertical, em que decide no topo e todos obedecem” e, por isso, não quer as eleições autárquicas”. “As autarquias colocam o poder na horizontal e o MPLA tem medo da horizontalidade do poder” porque “os cidadãos são ouvidos e participam na gestão” da sua região, do seu município.

Por isso, “as eleições terão de realizar-se em todo o país” e não de forma gradual como quer o MPLA e “a UNITA não abre mão disso”, reiterou o líder do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista.

Nas respostas a questões concretas colocadas por ouvintes e internautas, Adalberto da Costa Júnior considerou que “quem incutiu o extremismo em Cabinda foi o Governo”, com a sua política de desrespeito pela população e “privilegiando a repressão ao diálogo”.

“Há pouco tempo vi uma manifestação extremada de mulheres em Cabinda”, precisamente por causa das políticas do MPLA, referiu.

Nas grandes políticas, Adalberto da Costa Júnior apontou como prioridades a educação, saúde, agricultura, economia, “sempre em auscultação dos angolanos que têm noção da situação” do país e, “no limite sairemos às ruas”.

Folha 8 com Lusa

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